Então a sétima fase é diferente das outras de alguma forma?

É, é! Enquanto que a sexta tem a ver com este chacra [um ponto um pouco acima do ponto médio entre os olhos], a ponte entre os dois, o interior e o exterior, a sétima já nem se fala nessa diferença, ou seja, do um para o dois e para o todo, mas sem essa consciência que tem a ver com... é sentir o todo por exemplo, é... não ver completamente a diferença entre quando uma pessoa luta, ou uma pessoa faz qualquer coisa, entre a defesa e o ataque por exemplo. É, na luta, a gente não faz mais diferença entre o ataque e a defesa, não faz mais diferença clara entre tu e o outro, somos um, completamente; é matéria, energia, mente, corpo é só um, é todo o dia a dia, estás com um sentido total. O que é que é a vida, o que é que é a morte, o que é que é essas coisas todas, e... vive-se no todo... essa coisa toda...

Como é que uma técnica física pode corresponder a isso?

Como é que uma técnica física pode corresponder...

Sim, pode levar a descobrir isso, ou pode ser uma porta para isso, ou pode trabalhar isso...

É a integração. Quando consegues integrar de uma tal maneira em que já não falas em integrar - integrar é no sexto - quando já está integrado, estas duas coisas que eu te falei [interior e exterior].

É que, pelo que dizes, parece que quase nem podia haver técnica, parece que tudo seria isso, não é? Qualquer coisa que uma pessoa fizesse seria isso.

Olha, uma coisa típica da sétima fase, que é o topo de todos os Kung Fus, que é o Kung Fu macaco. O Kung Fu macaco o que é que faz, usa todas as coisas que estão do contra e principalmente o que está no contra, de uma maneira criativa. Quer isto dizer, usa o desequilíbrio, usa imenso o desequilíbrio, para dar força, para dar tudo. Ou seja, ele busca o desequilíbrio, estás a ver, ele busca mesmo a instabilidade, para estar bem com tudo. Para ganhar estabilidade, estás a ver? Porque essa é a única maneira de ter estabilidade para coisas muito sofisticadas. Que é o Kung Fu bébado, que é um Kung Fu assim, estás a ver... (risos)

Aquilo que eu te ia perguntar há bocado era o seguinte: porque nós falamos dessas fases todas e dizemos...

Só um parênteses, esta coisa de explicar estas fases todas é muito complexo, e eu acho que o que eu te disse até agora destas fases todas, principalmente a partir da quarta, é um trabalho muito complexo de explicar. E eu acho que fiz o melhor possível, porque é muito complexo explicar estas histórias todas, das fases mais avançadas.

Pois porque até à terceira é relativamente simples,

É...

Depois a partir daí...

Porque são mais óbvias, as outras são... é uma questão de experiência, é uma questão de sensibilidade, e às vezes tem que andar a pensar que tipo de

Analogia...

Analogia, exactamente. E depois também porque é uma coisa que eu também estou a trabalhar. Não estou pleno completamente.

Pois, a minha pergunta era um bocado nesse sentido, porque as três primeiras fases, que era aquilo que estávamos a falar há bocado [antes da entrevista]... por exemplo, eu sinto-me bem quando [1] consigo sentir-me bem a mim próprio, o meu interior, quando tenho consciência daquilo que sinto naquele momento; [2] quando tenho consciência do outro, e [3] consigo ligar isso tudo através dessa relação ou do amor, como tínhamos falado. Mas isso corresponde às três primeiras fases ou é o trabalho de todas as fases?

Isso é em todas as fases. Fazes isso na primeira fase, mas depois quando entras num... num outro território, já não consegues fazer tão bem, tens de fazer tudo outra vez. Depois outro [etc]... quando tu fazes, na sétima fase, isso, significa que fazes em todo o lado. Ou pelo menos tens capacidade de fazer em todo o lado. Porque não te esqueças que a gente está a cooperar, está na mesma sala [na mesma onda], ter que fazer isso quando está contra.

Ok, então já estou a perceber melhor, ou seja, a ligação entre o interior e o exterior, no fundo a meditação, não é?, que é o estado em que se consegue ter consciência de tudo [interior, exterior e relação]... mas isso tem a ver com a sétima fase!?

Isto tem a ver com todas. Agora, há coisas que, meditação para uns é ficar assim, treinar bem o corpo, ficar quieto, e pronto, isso é uma espécie de meditação. Mas agora, como fazer isso em sítios muita complexos, em sítios do nosso inconsciente, em sítios muito estranhos? Em vastidões muito grandes, em níveis muito mais subtis... uma coisa é fazer com o corpo, outra coisa é fazer com o corpo todos a colaborar, outra coisa é fazer com as emoções, estás a ver?, quando já há emoções esquisitas pelo meio. Uma coisa é o corpo, aquele é grande, aquele é pequeno, aquele é assim, aquele é assado, faz mais devagar, faz mais forte; depois começa a meter emoções pelo meio..., quando já vêm ideias pré-concebidas e elaboradas, e outros esquemas... estás a ver?, quando já vêm coisas que têm a ver com 'magia negra', ou com coisas do oculto... já não é assim tão fácil, fazer isso com gente assim... para isso acontecer... por exemplo a cena da magia negra, é muito perigosa, porque é assim, se uma pessoa se fecha, pode-se fechar completamente; mas é preciso ter cuidado com o fechar-se completamente, porque a gente tem que comunicar, depois um dia comunica, abre a porta, aquilo entra tudo por ali dentro, porque a gente não pode ter portas fechadas. A gente tem que ter tudo escancarado. Só que não pode ser receptivo, o que se chama um cofre aberto, tem que 'irradiar' algo. Então é isso: há muita gente que fecha as portas, e é céptico e não sei quê, mas um dia que as portas se abram aquilo entra por ali adentro, ou porque morre alguém, ou por uma associação qualquer. E há que ter as portas abertas e irradiar, e então a magia negra nunca acontece. Que é possível acontecer a magia negra.

O que é que nunca acontece?

Entrar, lá dentro.

Nunca acontece?

Não, nunca acontece. Quando tu irradias a magia negra nunca acontece...

Ah, quando irradias...

Se uma pessoa não irradia, e tem uma porta muito bem pintadinha, muito bonitinha, (risos) um dia que a porta, porque as portas não podem estar sempre fechadas, há uma altura em que isso abre, e entra por ali tudo dentro, coisas se calhar acerca da morte, acerca da perda, muita coisa, que entra tudo por ali adentro, que é maus olhados e não sei quê... o que é que é aquilo? Existe e não existe... Não existe no sentido em que a maior parte das pessoas fala, mas existe no sentido em que, são influências negativas, são vibrações.

Então, tudo isto é sempre vibrar em diferentes dimensões... A última fase tem a ver com todo o Cosmos. Todo o Cosmos estás a ver? Com Tudo. Em que se perde aquelas coisas fortes que é: família, os amigos, o que se gosta, essas coisinhas, como lidar com isso.

Isso é um bocado complicado (risos)...

Por isso é que eu não queria estar a falar sobre essas coisas.

Já há muito pouca gente que faz isso...

É dos últimos trabalhos, quem faz isso não está muito na ribalta porque a ribalta não quer saber destes assuntos, e porque são muito difíceis de explicar à ribalta e... porque tudo vem na altura certa, portanto não é preciso estar a falar dessas coisas, e isso é das últimas fases. Só para te dizer que esse trabalho não é só um trabalho físico, é um trabalho também psíquico. E o Kung Fu não é só andar para aqui a dizer que qualquer pessoa decora as sete fases em pouco tempo e coiso... isto não é só físico, isto é um trabalho existencial, por isso nós estamos com um granda crédito. Para já o pessoal, pelos que eles dizem "é pá, há tanta técnica", eu sinto, mas eles também sentem que há tanta coisa para melhorar, para aprofundar, temos tanto para trabalhar, tanto para trabalhar... o que conta é a qualidade, não a quantidade, o que conta é a profundidade do que fazemos. Um ketô, sim o ketô está bonito, mas um ketô tem que ser um ketô, não pode ser um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, movimentos e partes, até chegar até lá. Na última fase, um tem que ser: entre o partir e o chegar não há atraso nenhum. É tipo Lucky Luke: é mais rápido que a sombra!

Agora isto é que tem valor. Agora, termos um grande catálogo, que é técnicas daqui, técnicas dali e estarmos naquilo que o Rajneesh diz: cada vez se sabe mais e mais sobre menos e menos. Isto também é verdade, e nós temos muita técnica, este Kung Fu é vastíssimo em termos de técnica, e o mais importante nisto tudo não é apenas o momento de aperfeiçoar, é usar isto: O que é que fazemos com este manancial todo? Estás a ver? O que é que fazemos com as técnicas todas que existem... E acho que, como a gente falou - o mais importante é aquela relação, do amor, etc. - no fundo é isso: é que isto seja um instrumento e um meio para a comunicação, porque é o que já falámos da outra vez [na primeira entrevista], o Kung Fu para o nosso tempo é o Kung Fu de comunicação. Antigamente era o Kung Fu de transformação, de revolução, mais de fogo, Kung Fu disto ou daquilo, o Kung Fu do conhecimento, o Kung Fu de muita coisa, e agora há um Kung Fu da comunicação, é uma época de partilha e o êxtase neste momento é esse. Antigamente o objectivo seria alcançar um objectivo e transformar, tirar os maus e pôr os bons (sorriso), ou de ter segredos ou conhecimento, o tao ou coisa assim, agora não, agora será um Kung Fu de partilha, de comunicação, um Kung Fu da era de aquário, um Kung Fu universalista.

Mas, por aquilo que estás a dizer parece quase que aquilo que faz com que haja 'maus' é a falta de comunicação. É quase o bloqueio de qualquer coisa, o que não queremos sentir. Mas nem sempre é assim, não é? Eu estava a pensar no Senhor dos Aneis...

[Resposta na próxima parte: "A existência do Mal"]