DragonBall 36-38 – As lutas contra os ajudantes do tirano.

 

Nestes episódios Sangoku vai lutar contra vários tipos de ajudantes do tirano. Começa com o mais básico, o robot, que vai lutar sempre até à derrota final. Só pára quando acabam as baterias. Independentemente do resultado final, das possibilidades de vitória, das mudanças estratégicas, este robot fará tudo o que lhe for mandado até à morte. Penso que é a típica imagem do soldado nas trincheiras.

Depois vem a vez do Ninja . Talvez a frase mais interessante em todo estes combates seja a frase do Ninja : é um combate até à morte, por isso não há regras. Esta frase é interpretada de maneira diferente por Sangoku e pelo Ninja . Para sangoku significa simplesmente que todas as regras são permitidas. Para o ninja significa que há algo que tem mais valor do que aquilo que no filme “O Último Samurai” se chamava honra, e que Sangoku chame talvez alegria, ou o prazer de brincar. Esse algo mais importante não foi definido, está coberto por uma cortina de medo. É evitar aquilo a que o tirano fez alusão no passado como algo pior que a morte. É evitar esse medo que, acima de tudo, importa ao Ninja , para isso ele está disposto a perder a honra do Samurai e inventar todo o tipo de artifícios, para encontrar a glória da vitória. Desde bombas de fumo venoso, até todo o tipo de objectos pontiagudos, armadilhas, etc.

 

O Ninja corresponde, na escala dos seguidores do tirano, a um tipo de seguidor mais próximo de si próprio (isto é, mais longe de ser um robot). Durante a primeira parte do episódio Sangoku combate às escuras, pedindo insistentemente pelo seu nome. Mas nada aparece, só frases feitas e ameaças de uma voz que vem de todo o lado. O olhar penetrante de Sangoku não consegue encontrar, por trás das aparências, a verdadeira alma, a verdadeira vontade, do ninja . Mais tarde isso acontece, Sangoku , depois de o ter atinjido de raspão, procura o ninja cara a cara e lá está ele. Não em casa, nem no campo, nem na casa de banho, em lado nenhum, que seja facilmente visível…

 

(a casa do ninja )

 

 

…mas por trás de uma cortina de água. Noutra dimensão por onde só fala com exterior para respirar, através de uma cana de bambu oca. Este é o único contacto que tem com o mundo, tudo o resto lhe está vedado. Está por detrás dessa cortina e tudo o que lhe vem do mundo vem-lhe de forma distorcida, parcial, como de muito longe, sem contacto directo.

Sangoku tinha várias hipóteses neste momento. Poderia ter mergulhado, tirado a cana, etc. Em vez disso (o momento cómico?) despejou-lhe com água quente pela goela abaixo. No fundo é isso que pessoas como Rajneesh fazem a quem os ouve ou lê, despejam-lhe água quente pelas goelas, obrigando-nos a sair, nem que seja por momentos, do esconderijo e a ver de relance o mundo amplo que os rodeia, muito mais do que as infinitas cortinas de água que os rodeiam permitem, e de que só eles próprios se podem soltar.

 

O combate entre Sangoku e o ninja prossegue, agora alegremente, por entre o ritmo de revistas pornográficas   (a base da casa do ninja ) e promessas de violência nunca cumpridas.

 

O ninja não morre como o robot, dá lugar antes a uma ameaça muito mais terrível. Um homem de cérebro enorme. O passo seguinte ao ninja : o homem que pensou a sua própria solidão de modo a dar-lhe reflexos de liberdade. O homem que pensou a sua própria prisão de modo a transformá-la na sua casa. Este é um homem velho, um homem perdido, já não na flor da infância, mas reconhecendo todos os cantos à casa, todos os recantos do cativeiro, sabendo de cor o cheiro de cada coisa, e como cada prazer o amarra à vida. Este é o homem mais próximo de se libertar, mas ao mesmo tempo, o mais perigoso, pois ele é o único que tem poder suficiente, para, através da razão (e não apenas do medo), iludir os seus adversários e a si próprio, de que a sua prisão é o melhor mundo que se pode ter.