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Gostava de dizer que aprendi qualquer coisa até agora. Mas não, acho que não posso dizer isso realmente. Porque só há uma coisa realmente importante. Saber o que devemos fazer, porque estamos aqui. Por outras palavras, saber o que é importante, o que conta. Talvez sejamos apenas mais uns animais no planeta. Com a mesma importância que tiveram os outros milhões ou biliões de animais parecidos connosco. Neste caso nada tem importância. Quer dizer, de um ponto de vista objectivo. Porque, é claro, as coisas têm sempre a importância que nós lhes atribuímos. E se eu atribuo importância a ser famoso e a fazer diferença na história da humanidade, posso fazê-lo, nem que seja provocando intencionalmente desastres em massa (colisões de comboios, incêndios e coisas assim). Tipo Jack the Riper ou algo do estilo.

Por outro lado pode existir um Deus. Mas por alguma razão não se mostra. Talvez porque assim consegue distinguir os verdadeiros fieis, ou amantes, os que, não podendo viver sem ele, nem se preocupam com a possibilidade de ele ser apenas um fruto da sua imaginação. Não se importam porque o amam. E o amor, como sabemos, é cego.

Também podemos estar aqui para nos descobrirmos ou inventarmos, para sermos "nós próprios". Como a criação de algo novo, de uma individualidade própria.

também pode ser que tenhamos sido criados ou projectados por outras civilizações que também elas não sabem o que é importante, mas que, acabaram por nos criar, embora provavelmente de forma muito indirecta e imprevisível.

Talvez todas estas questões sejam irrelevantes e o que é relevante seja outra coisa qualquer que nunca e passou pela cabeça até agora.

Mas o que me espanta, no meio disto tudo, é que parece que ninguém se importa muito com a situação. Toda a gente vive na boa, como se soubesse, como se fizesse sentido. Esta nossa capacidade para ignorar o espanto e a perplexidade perante um puzzle aparentemente sem solução e que atravessa cada momento das nossas vidas, é a capacidade mais espantosa que já observei nas pessoas.

É claro, também tomo, em cada momento, decisões. Mas onde estão os parâmetros que permitem dizer: isto é bom e aquilo é mau?

Acho que, na prática, o problema se resolve pela complexidade das situações. Ou seja, começámos por perder pouco tempo a definir o objectivo central e depois gastamos quase todas as nossas energias a tentar executá-lo ou a uma das suas versões realizáveis. Como nos esforçamos muito para isso a falta de legitimidade do objectivo abrangente acaba já por não nos preocupar. Acabamos a pensar que temos razão porque vemos os outros a fazer o mesmo, ou [somos] simplesmente conduzidos pelo prazer.