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A dor do abismo, o sem sentido de tudo. Quem já não passou por isso? Na minha experiência, é uma porta para a liberdade. Porque, enquanto andamos a tentar ser certinhos, estamos sempre condicionados pelo exterior. E a vida, cedo ou tarde, parece uma cruz que tem de se arrastar para todo o lado. Para as pessoas que se sentem infelizes com essa cruz, pode parecer por momentos que não há mais nada, nem saída, nem augúrio de felicidade. Pois, se tudo são prisões infindáveis, grilhetas sem fim, não seria o caos do nada, do sem sentido, do sem valor, mil vezes mais terrífico?

Mas esse caos, esse abismo, onde meditação, Deus, amor, bem e mal e todas as balizas desaparecem – deixando lugar à realidade nua das pedras, dos edifícios, dos olhares, despidos na sua crueza, de qualquer sentido – é um abismo que nunca acaba, nunca tem fim, nunca tem uma pedra para amortecer a queda final.

E quem entra nele aprende a voar e a amar, de uma maneira diferente. E aprende sobretudo que o abismo é que é real, que não há pedra, nem fim para a queda. Que a única coisa real é o voo, o passar do tempo, a liberdade de estar aqui e agora e realizar o Sonho sempre Eterno, sempre Novo.

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referências: Albert Camus e o existencialismo francês (Sartre, etc).