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Sobre a aceitação... (segunda parte)

 

Guilherme (continuação) — Pronto, falámos no geral, depois há sempre pequenas coisinhas porque a palavra «aceitação», parece querer dizer que está tudo certo, mas, como já foi dito, a palavra aceitação implica uma maior consciência nas coisas, e uma maior consciência nas coisas significa ver muitos pormenores. As pessoas nunca estão erradas completamente, porque todas vêm do seu lado, a sua perspectiva. O problema é que elas não vêem um grosso das perspectivas – o que é humano – mas não vêem o grosso, o que provoca a desarmonia.

Quando uma pessoa se envolve mais na expansão da consciência e na aceitação começa a ver muitos pormenores, mas mesmo muitos pormenores envolvidos, e começamos a não ficar sectários e a ficar muito mais envolvidos, a não ter uma opinião formada – aquilo a que os ingleses chamam «ready-made answer» – mas passamos a responder com o momento. Porque o momento, quando olhas para tudo, é que permite ver o peso das coisas e o que é que tens de decidir e optar naquele momento. É não teres uma opinião formada já de há não sei quantos anos.

Há aquela história taoista de um ladrão que tinha roubado um senhor e convidaram um mestre taoista para julgar aquela situação, e ele ouve o senhor e ouve o ladrão, e no fim diz: «para mim vão os dois para a prisão», porque sem dúvida que o ladrão não tem de roubar, porque o mundo nunca nos fecha as portas completamente (era um ladrão assumido, não roubou apenas uma vez ou outra), mas o senhor, num sítio onde há tanta pobreza, ele viver daquela maneira, é altamente criminoso. E foi isso, o veredicto dele.

E é isso que acontece muitas vezes, quando há uma compreensão e aceitação, nós vemos muito mais coisas e não optamos, até nos podemos parecer às vezes como os taoistas ou as pessoas do Zen – parecem uns fools, uns tolos, no sentido em que não têm uma opinião formada – mas é uma coisa muito diferente e muito gira: é que eles estão em paz com o mundo e se a pessoa ouvir bem, naquele momento ele acertou no ponto.

Porque não se trata de dizer que são os americanos que têm razão ou que são os do Iraque que têm razão, ou Oriente ou Ocidente, ou esta religião, ou aquela religião, ou isto ou aquilo; é o ponto da situação, e o ponto da situação é muito complexo, é um emaranhado muito grande de coisas. Para compreendermos e para termos aceitação, é preciso um envolvimento, um discernimento, é preciso não se comprometer, mas é preciso ver os meandros das coisas e confrontá-los e juntá-los.

Isto tudo para dizer que a aceitação não é uma coisa passiva, a aceitação não é dizer que sim. A aceitação é como a partilha, até é bastante acessível mas requer um envolvimento muito grande. E era basicamente isso que eu tinha para dizer.

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