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O objectivo das religiões cristãs, ao contrário das orientais, não é despojar o homem do seu eu, fazendo-o viver despido em comunidade com o cosmos. Pelo contrário, é crescer, dentro desse eu, vivendo as suas ansiedades, os seus desesperos, as suas inquietações.

Por exemplo, quando uma pessoa é ferida pela sua própria família (pelas pessoas que mais ama), no oriente a «defesa» é: eu não existo, não faz mal, posso amá-las na mesma (o que reforça as ditaduras e mecanismos de controlo de poder). No cristianismo é: eu tenho de continuar a amar (castigo/recompensa/amor), apesar do mal que eles me fizeram. Por isso continuo a amar, mas a dor fica lá, permanece, como uma mágoa, durante muito tempo, e para os cristãos isso faz parte da sua herança, da sua comunidade.

Segundo o Tao os dois aspectos são importantes, tanto o aspecto pessoal, a minha visão, como a visão dos outros. Assim, o permanecermos fechados numa delas leva-nos a uma visão incompleta da situação. Os ódios, raivas, mágoas, etc, são simultaneamente o resultado e resultam de (são concomitantes com) uma visão parcial da situação, situação que inclui o interior e o exterior. A falta de compreensão gera o sentimento de injustiça, que por sua vez reforça a visão parcial. Para quebrar a espiral de violência pode-se tanto aceitar, como analisar. Tanto o conhecimento como a paz conduzem um ao outro.

Assim, quando uma pessoa é magoada pela própria família, não tem de começar por se defender ou atacar (como na série Uma Casa na Pradaria), mas por compreender (o que exige, abertura, amor, realismo, um sentido de justiça – não o ego mas o eu, e muita experiência de muitos horizontes). Essa compreensão é a chave da acção, e o objectivo é que todos (eu e os outros) cresçam com isso. É isto viver em harmonia e cada vez com mais consciência, pois cada situação irá mostrar novos pormenores, é a exploração de novos horizontes…